Autor: ana

  • Como o estresse afeta todos os nossos sistemas

    Como o estresse afeta todos os nossos sistemas

    Sempre que falamos dos benefícios do Yoga enfatizamos como a prática ajuda na redução dos níveis de estresse. E claro, todos sabemos de maneira geral que o estresse crônico pode ser muito prejudicial a nossa saúde, mas nem sempre entendemos como isso pode afetar diretamente nossos sistemas. O que precisamos ter claro é que tudo está inter relacionado e nossos sistemas não são independentes uns dos outros. A saúde de um impacta na saúde do outro.

    Uma visão geral sobre o estresse

    A ativação do Sistema Nervoso Simpático (SNS) é a base da nossa resposta ao estresse. Se nos encontramos em uma situação de perigo, nosso corpo precisa se preparar para lutar ou fugir, e na hora que nós nos vemos nessa situação, ativamos o SNS que manda um comando para todo o corpo se mobilizar para esse momento. Alguns processos que são desencadeados nessa ativação são:

    • A mobilização do glicogênio que está armazenado no fígado, para aumentar os níveis de glicose no nosso sangue e nos dar mais energia para agir
    • Dilatação da pupila
    • Diminuição do processo digestivo, pois precisamos de energia em outras áreas do corpo, e consequentemente diminuímos a absorção de nutrientes
    • Liberação de catecolaminas, que são hormônios como a adrenalina e o cortisol liberados pelas glândulas supra renais
    • Aumento da nossa frequência cardíaca
    • Aumento da pressão sanguínea
    • Aumento da frequência respiratória, entre outros.


    Todo esse processo é ótimo quando realmente estamos numa situação na qual corremos perigo. Logo existe um estresse que é necessário e natural.

    Como o estresse crônico impacta nossa saúde física

    Como falei antes, ter uma resposta ao estresse é natural, o problema é que, por conta de diversas pressões que sofremos no trabalho e na vida pessoal, estamos o tempo todo com o nosso SNS ativado, como se estivéssemos frente a um perigo de vida. Quando esse estresse se torna crônico passamos a afetar os diferentes sistemas fisiológicos no nosso corpo.

    Alguns dos processos e sistemas impactados

    Quando ativamos o SNS, inibimos as ações do córtex pré frontal (área envolvida no raciocínio), pois se corremos risco de vida, ficar raciocinando pode ser mais prejudicial do que ter o instinto de correr ou lutar. Porém essa região também está relacionada com a memória e com o aprendizado, e se inibimos o córtex pré frontal o tempo todo, prejudicamos também esses dois processos.

    Se sempre estamos com o processo digestivo pouco ativo, diminuímos a absorção de nutrientes, podemos ter um excesso de remoção de água para compensar a pressão sanguínea elevada, alteramos o equilíbrio do nosso microbioma e aumentamos a quantidade de ácido no estômago.

    A falta de nutrientes associado a rigidez muscular também pode causar efeitos negativos nos ossos.

    O estresse crônico pode causar um padrão irregular respiratório ou hiperventilação, que diminui o nível de oxigênio em todos os nossos tecidos e aumenta o dióxido de carbono, alterando o pH do sangue.

    O constante estímulo na liberação de cortisol e adrenalina aumenta a pressão sanguínea, fazendo seu coração trabalhar mais que o necessário, que a longo prazo pode danificar os tecidos vasculares e cardíacos.

    Outro sistema afetado é o endócrino, que está diretamente ligado ao nosso sistema nervoso. Essa resposta constante ao estresse pode causar impactos na produção de outros hormônios necessários para outros sistemas, como o reprodutor, digestivo, circulatório, etc.

    Nosso fígado também é afetado pois está constantemente sendo estimulado a degradar glicogênio para enviar mais glicose ao sangue. E se estamos jogando mais glicose no sangue e não estamos usando, somente aumentamos o nível de açúcar no sangue.

    Corremos mais risco de ter infecções e também alteramos o funcionamento do sistema imunológico, que pode se tornar hiperativo ou hipoativo.

    O excesso de cortisol altera o equilíbrio hormonal envolvido no processo de sono, processo importante para o corpo não só como descanso. É durante o sono que diversos outros processos acontecem no nosso corpo.

    Como reverter esse quadro

    A boa notícia é que podemos alterar esse padrão de resposta, e portanto a saúde de forma geral. Eu acabo falando mais sobre yoga, mas qualquer prática que te ajude a diminuir o estresse, e portanto ativar o Sistema Nervoso Parassimpático (SNP), que é o sistema que permite que nosso corpo volte ao estado de homeostase, vai ser muito benéfico.
    O Yoga é uma prática completa pois tem movimentos físicos que afetam de forma mais mecânica nossos órgãos. A respiração que está diretamente ligada com o sistema nervoso autônomo. A meditação permite treinar nossa mente e controlar nossos pensamentos, e a yoganidra fornece ferramentas de relaxamento profundo.

    Quando entendemos a importância de cuidar do nosso corpo de maneira integral fica mais fácil tomar decisões e criar hábitos que impactam positivamente nossa saúde. Espero que esse post tenha te ajudado a entender melhor a importância de manter os níveis de estresse equilibrados, e que você se anime a buscar hábitos mais saudáveis.

  • Os Gunas e a Teoria Polivagal

    Os Gunas e a Teoria Polivagal

    Nas últimas décadas observamos um aumento na quantidade de estudos científicos sobre os mecanismos e benefícios da prática de yoga. Vivendo numa cultura ocidental é natural que cada vez mais a ciência tente explicar essa prática milenar. Eu pessoalmente acredito e sinto com a prática de yoga uma melhora no meu corpo físico e energético, mas também me interesso muito por novas visões sobre essa filosofia. E hoje resolvi resumir pra vocês alguns estudos que li e venho estudando sobre a Teoria Polivagal e os Gunas.

    Sobre a Teoria Polivagal

    Para escrever esse texto usei como base o artigo “ Yoga Therapy and Polyvagal Theory: The Convergence of Traditional Wisdom and Contemporary Neuroscience for Self-Regulation and Resilience (Sullivan MB, Erb M, Schmalzl L, Moonaz S, Noggle Taylor J and Porges SW, 2018), que explica muito bem as ligações entre os dois conceitos.

    A Teoria Polivagal (TPV) explora nosso sistema nervoso além das respostas do Sistema Nervoso Simpático (SNS) e Sistema Nervoso Parassimpático (SNP) e sugere que temos mais opções de respostas do que só essas duas. Então só pra lembrar:

    O SNS é ativado quando nos vemos em uma situação de perigo, então é aquela situação de lutar ou fugir. Ele mobiliza nosso corpo em caso de perigo, então aumenta a adrenalina, acelera os batimentos cardíacos, dilata a passagem dos brônquios, dilata as pupilas, aumenta a pressão sanguínea, etc. Tudo para preparar o corpo nesse momento que precisamos agir.

    Já o SNP é dominante numa situação de calma e segurança. Onde o corpo entende que não precisa se salvar. Então desacelera os batimentos cardíacos, diminui a pressão arterial, diminui a adrenalina, etc.

    Três principais plataformas nervosas da Teoria Polivagal

    O SNS, que já vimos acima. É a resposta de luta ou fuga frente a uma situação de estresse.

    Sistema Vagal Ventral (SVV) faz parte do SNP e é dominante quando nos sentimos seguros tanto internamente quanto externamente e promove a regulação neural de estados viscerais auxiliando a homeostase, restaura a expressividade facial, restaura domínios de receptividade, regula os músculos da face, dos brônquios e do coração. Uma vez que temos esse sistema ativado temos uma resposta pró-social e de conexões humanas, promovendo mais flexibilidade e adaptação ao meio.

    Sistema Vagal Dorsal (SVD), que também faz parte do SNP, é ativado numa situação de ameaça à vida, mas aqui a diferença é quando acreditamos que não temos saída, e nosso corpo paralisa, então reduz tônus muscular, reduz o débito cardíaco com a intenção de reservar os recursos metabólicos do nosso corpo, altera a função do sistema digestivo e excretor, etc. O corpo congela frente a uma situação de estresse.

    Porém a TPV defende que esses 3 sistemas principais coexistem, criando a complexidade dos nossos estados fisiológicos, emocionais e comportamentais.

    As combinações de resposta entre as três principais plataformas nervosas
    SVV + SNS co-ativados caracteriza um quarto estado de mobilização do corpo, porém numa situação de segurança. É observado numa brincadeira, na dança, nas expressões artísticas. O corpo ativa o movimento, criatividade e destreza, mas num ambiente onde a pessoa se sente segura.

    SVV + SVD co-ativados caracteriza um quinto estado de imobilização do corpo mas também num ambiente seguro. Esse estado permite os efeitos do SVD de imobilização do corpo, num ambiente seguro permitindo conexões sociais de intimidade e cuidado.

    Sobre os Gunas

    Agora que fizemos um resumo bem resumido sobre a Teoria Polivagal, vamos ver algumas características dos Gunas

    Os 3 Gunas são qualidades da natureza que co-existem e estão sempre em movimento. Conforme se combinam, criam os atributos de tudo que existe de matéria, incluindo nosso corpo e mente. O Yoga acredita que todos os aspectos físicos, psicológicos e comportamentais são influenciados pela interação dos gunas.

    Sattva

    Em equilíbrio é o estado de calmaria, tranquilidade, autoconhecimento e conexão. Se formos pensar nos sistemas da TPV, se relaciona com o SVV, que quando dominante fornece o suporte para a conexão, equanimidade e profundo bem estar, enquanto conecta a mente com as sensações do corpo e a capacidade de se auto regular.

    Rajas

    Em equilíbrio é o estado de movimento, ativação. Se relaciona ao estado de SVV+SNS. Mobilização num ambiente seguro, fornece base para a criatividade e ao movimento intencionado.

    Tamas

    Em equilíbrio, é o estado de estabilidade, podemos pensar como inércia. Está associado ao SVV + SVD que é a imobilidade porém num ambiente seguro, fornece suporte para as conexões interpessoais, sendo algo positivo.

    Teoria Polivagal, Gunas e Yoga

    Agora que conseguimos criar uma conexão entre esses dois conceitos, vamos pensar em como estamos vivendo. Cada vez mais as pressões de trabalho, os medos, as inseguranças, a falta de conexão pessoal e interpessoal, ansiedade e estresse nos fazem estar todo ou o tempo com o SNS ativado (como se estivessemos numa batalha) ou com o SVD ativado (que nos congela frente ao estresse, onde não conseguimos fazer nada)

    Todos os sistemas são extremamente importantes, mas precisamos começar a reconhecer quais são as situações de real perigo à vida. Precisamos estar mais equilibrados, em harmonia com nosso corpo, mente e ambiente externo. Estar mais tempo com o SVV ativado e mais no estado de Sattva. A prática de Yoga pode te trazer essa consciência e facilidade para se auto regular.

    Os ásanas servem como ferramenta de regulação bottom-up, promovendo resiliência, e praticados com atenção, te ajudam a entender os diferentes sistemas. Durante essa prática física precisamos ativar o SNS, necessário para o movimento, mas também precisamos ativar o SVV, através da respiração, trazendo calma e consciência para o movimento.

    Os Yamas e Niyamas te guiam nas relações consigo mesmo, com os outros e com o ambiente. Ajudando nas relações pró-sociais.

    Pranayamas afetam diretamente o tônus vagal cardíaco, levando o sistema em direção ao domínio do SVV.

    Meditação, que é o treino da mente, fornece a base para a auto regulação.

    Quando pensamos na prática englobando todos esses aspectos e entendemos o porquê de tudo que fazemos, fica mais fácil sentir os efeitos do yoga no nosso corpo, na nossa mente e na nossa relação com o ambiente. Coloque em prática e depois me fala como está sendo essa experiência.

    Link do artigo que usei como base

  • Ásanas para o Sistema Digestivo

    Ásanas para o Sistema Digestivo

    Já sabemos que a prática de yoga pode ser uma poderosa aliada para melhorar nossa saúde física e mental, inclusive quando se trata do sistema digestivo. A prática regular pode ajudar a reduzir problemas como inchaço, constipação e desconforto abdominal, além de aumentar o fluxo sanguíneo para o trato digestivo. Ao mesmo tempo, as posturas de yoga também podem ajudar a reduzir o estresse e a ansiedade, que muitas vezes são responsáveis pelos problemas digestivos relacionados ao estresse.

    Por isso, hoje quis trazer algumas posturas, que você pode fazer em casa, que ativam o sistema digestivo e que ajudam a reduzir alguns dos desconfortos relacionados a esse sistema.

    Ásanas para o sistema digestivo


    Parivrtta Anjaneyasana

    Mulher em uma postura de yoga com torção da coluna
    • Comece na postura da montanha
    • Leve seu pé esquerdo para trás, apoiando a ponta dos dedos
    • Dobre o joelho direito. O joelho deve estar alinhado com o tornozelo
    • Mantenha o tronco virado para a perna que está dobrada e traga as mãos em Añjali Mudrá (palmas unidas) em frente ao peito
    • Mantenha a perna de trás esticada
    • Incline-se e apoie o cotovelo esquerdo por fora do joelho direito e permitindo a torção da coluna
    • Pressione as palmas das mãos para criar uma alavanca que te ajuda a torcer a coluna
    • Você pode manter o joelho e dorso do pé de trás apoiados no chão, caso seja mais confortável
    • Para desfazer a postura, inspire elevando a coluna, retornando para a posição neutra, e expirando traga o pé esquerdo para frente voltando para a postura da montanha
    • Repita para o outro lado
    • Faça 4 respirações completas para cada lado


    Malasana

    Mulher em postura de yoga com joelhos dobrados e afastados, e cotovelos encaixados no interior dos joelhos
    • Comece na postura da montanha
    • Afaste os pés numa largura maior que a do quadril
    • Expire e dobre os joelhos para descer o quadril em direção aos calcanhares
    • Separe bem as coxas numa largura maior que a do tronco, incline-se um pouco para frente e encaixe seus cotovelos entre as coxas
    • Traga as mãos em Añjali Mudrá em frente ao peito (palmas unidas) e pressione os cotovelos contra o interior das pernas para aumentar o alongamento do quadril
    • Alongue a coluna e relaxe os ombros
    • Faça 8 respirações completas


    Ushtrasana

    Mulher em postura de yoga com joelhos apoiados no chão e mãos sobre os calcanhares
    • Comece numa posição ajoelhada
    • Mantenha os joelhos na largura dos quadris
    • Coloque as mãos na altura da lombar
    • Expire e gentilmente projete o quadril para frente e leve o peito para trás
    • Lentamente vá abrindo mais seu peito olhando para cima, e se conseguir segure os calcanhares com as mãos.
    • Você pode manter a ponta dos dedos ou o dorso dos pés no chão
    • Encontre uma posição confortável para o pescoço, pode ser numa posição neutra ou relaxado para trás
    • Faça 8 respirações completas


    Balasana

    Mulher em postura de yoga sentada sobre os calcanhares e testa apoiada no chão
    • Sente-se sobre seus calcanhares
    • Afaste um pouco os joelhos e leve a testa em direção ao chão
    • Os braços podem ficar esticados para frente ou relaxados ao lado do corpo (você também pode colocar uma mão em cima da outra para apoiar a testa)
    • Faça 8 respirações completas


    Ardha Matsyendrasana

    • Sente-se com as pernas esticadas
    • Dobre sua perna esquerda e apoie a sola do pé no chão passando por cima da perna direita
    • Apoie as pontas dos dedos da mão esquerda no chão atrás do seu quadril e seu cotovelo direito pelo lado de fora do seu joelho esquerdo
    • Inspire e alongue a coluna
    • Expire e vá torcendo a coluna para a esquerda, olhando por cima do seu ombro
    • Mantenha os ísquios no chão para alongar a coluna
    • Desfaça a postura lentamente retornando o tronco para frente
    • Repita para o outro lado
    • Faça 4 respirações completas para cada lado


    Janu Sirsasana

    Mulher em postura de yoga sentada com uma perna esticada e a outra dobrada com sola do pé encostando o interior da coxa oposta
    • Comece sentado com as pernas esticadas
    • Dobre a perna direita trazendo a sola do pé no interior da coxa esquerda
    • Inspire e alongue a coluna
    • Expire levando o peito em direção a perna, mantendo a coluna ereta (vá no seu limite e até onde for confortável)
    • As mãos podem apoiar no chão, na perna ou no pé
    • Para retornar inspire e eleve a coluna lentamente
    • Repita para o outro lado
    • Faça 4 respirações completas para cada lado


    Navasana

    • Sente-se com as pernas esticadas
    • Dobre os dois joelhos, coloque as solas dos pés no mat. Mantenha os braços esticados ao lado do corpo com a ponta dos dedos das mãos apoiadas no chão.
    • Inspire e incline a coluna para trás, tire os pés do mat e encontre o equilíbrio apoiando bem os ísquios
    • Expire e levante um pouco mais as pernas até as panturrilhas estarem paralelas ao chão
    • Relaxe os ombros e estenda seus braços deixando as mãos ao lado dos joelhos
    • Contraia o abdômen e mantenha a coluna ereta
    • Faça 8 respirações completas


    Supta Matsyendrasana

    • Deite-se com as costas apoiadas no chão
    • Estenda os braços na mesma linha dos ombros, com as palmas viradas para baixo
    • Dobre o joelho esquerdo em direção ao peito
    • Expire e deixe o joelho esquerdo cair para a lateral direita
    • Mantenha os ombros apoiados no chão.
    • Olhe para o lado oposto
    • Repita para o outro lado
    • Faça 4 respirações completas para cada lado


    Apanasana com flexão da coluna

    • Deite-se com as costas apoiadas no chão
    • Abrace os dois joelhos, trazendo-os em direção ao peito
    • Leve a testa em direção aos joelhos, arredondando a coluna
    • Faça 4 respirações completas


    Prática completa com foco no sistema digestivo

    Espero que você tenha gostado e que se sinta motivado(a) a experimentar esses ásanas sempre que precisar.

  • Os benefícios da prática de Yoga

    Os benefícios da prática de Yoga

    Diferente do que muitos acreditam, yoga não é só a prática de ásanas, as posturas. O yoga é uma filosofia de vida que envolve diversas práticas, e que tem como objetivo final a identificação do seu humano com a sua própria natureza. Enquanto tivermos a ideia dualista de que estamos separados do todo, vamos gerar sofrimento e só alcançamos a libertação quando nos unificamos com o todo, o universo, a verdadeira essência. Durante esse processo, a prática traz diversos benefícios para o corpo físico, mental, emocional e espiritual. Antes de falar sobre os benefícios em si, vamos entender um pouco sobre esse caminho que deve ser percorrido.

    O Yoga e os Yoga Sutras de Patañjali

    Yoga é um dos seis Darshanas, pontos de vista, no qual o hinduísmo pode ser interpretado, mas vale aclarar que yoga não é uma religião, é uma filosofia, uma forma de interpretar o mundo e a nossa existência. Yoga significa união do nosso corpo, mente e alma, é a união com a nossa essência. Também pode ter como significado “adequação a nossa natureza”. As duas formas querem dizer a mesma coisa, acabar com a ideia dualista de que estamos separados do Todo e alcançar um estado de união com o universo. Essa é a nossa essência.

    Essa filosofia prática nasceu na Índia, e apesar de sabermos que existe há mais de 5.000 anos é difícil dizer com exatidão, já que antes dos textos antigos serem escritos, o conhecimento já era passado oralmente de mestre a discípulo. O yoga é citado em diversas passagens dos Vedas, textos sagrados mais antigos do hinduísmo, e entre 500 a.C a 800 d.C o Yoga foi sendo sistematizado e ampliado.

    A primeira obra que sintetiza e codifica esse conhecimento, e a prática de yoga, foram os Yoga Sutras de Patañjali, escritos no século III a.C, sendo uma das obras mais importantes sobre essa filosofia. Patañjali descreve os 8 passos, 8 angas, que nos levam ao objetivo final do Yoga. Através da prática descrita por ele podemos acalmar as flutuações da nossa mente, possibilitando nossa união com o Divino.

    No ocidente essa prática é bem mais recente e começou a crescer consideravelmente a partir da década de 50.

    Os oito angas

    • Yamas: são os princípios éticos para se viver em sociedade. É como devemos agir com o mundo externo.
    • Niyamas: é como devemos agir com nós mesmos.
    • Ásana: são as posturas, que devem ser firmes e confortáveis. Através da auto observação durante a prática de ásanas, controlando também a respiração em cada movimento, trabalhando o equilíbrio entre corpo e mente.
    • Pranayama: são as técnicas respiratórias que visam expandir o prána, a energia vital. Quando respiramos com consciência limpamos nossos canais de energia (nadís) e permitimos que o prána flua livremente por todo o nosso corpo. Através da respiração também regulamos nosso sistema nervoso, modificando nosso padrão mental e emocional.
    • Pratyahara: é quando aumentamos nosso domínio sobre as influências externas. Apesar de ser descrito antes de dharana e dhyana, entramos nesse estado quando conseguimos nos abstrair de todos os nossos sentidos, e é consequência e parte do processo de dharana e dhyana.
    • Dharana: é a concentração num único objeto. É direcionar sua mente em uma única direção
    • Dhyana: é o estado onde nos unimos ao objeto de concentração. Nos tornamos um com esse objeto. É o estado de meditação.
    • Samadhi: é o objetivo final, é o estado de hiper consciência, a total identificação com o todo, com o universo e com a nossa essência.


    Benefícios da prática de yoga

    Os benefícios são muitos, uma vez que envolve nosso físico, emocional, mental e espiritual.

    Benefícios no corpo físico

    • Aumenta a mobilidade das articulações
    • Diminui dores na coluna, principalmente na lombar e cervical
    • Melhora a flexibilidade em todas as áreas da nossa vida. Quando trabalhamos a flexibilidade do corpo, também trabalhamos a flexibilidade da mente.
    • Melhora do sistema imunológico
    • Melhora do sistema digestivo
    • Ganho de força muscular
    • Melhora a postura
    • Aumento do autoconhecimento. Passamos a entender melhor nosso próprio corpo
    • Melhora da respiração e consequentemente os níveis de oxigênio e energia

    Benefícios no mental, emocional e espiritual

    • Melhora a concentração
    • Reduz o estresse
    • Reduz a ansiedade
    • Melhora nosso humor de forma geral
    • Melhora a qualidade do sono
    • Aumento da nossa autoconfiança
    • Melhora a qualidade dos nossos pensamentos e emoções
    • Começamos a ver as coisas com outra perspectiva
    • Nos sentimos mais conectados com a nossa verdadeira essência


    O yoga é uma prática que visa a evolução pessoal, e isso é algo muito individual. Vale lembrar que existem vários caminhos que podemos percorrer dentro do yoga para alcançar o mesmo objetivo. Busque o seu caminho e se sinta mais saudável, feliz e em paz.

  • Prática de yoga para reduzir a ansiedade e o estresse

    Prática de yoga para reduzir a ansiedade e o estresse

    Como praticantes de yoga, compreendemos que esta filosofia é uma grande aliada para melhorar nossa saúde física e mental. Quando entramos num estado de estresse ou ansiedade, várias reações ocorrem em nosso corpo, tais como aumento da frequência cardíaca, glicose elevada no sangue, tensão muscular, respiração rápida e superficial, e aumento na liberação de cortisol. Se você já leu sobre os principais benefícios do yoga, com certeza já deve saber que essa prática pode ajudar significativamente a reduzir nossos níveis de ansiedade e estresse. No entanto, vale lembrar que, caso você esteja sofrendo de estresse crônico, crises frequentes de ansiedade ou de pânico, é altamente recomendado buscar ajuda de um profissional especializado.

    Por isso, hoje eu gostaria de compartilhar uma prática rápida que irá te ajudar em momentos de mais ansiedade.

    Técnicas e Posturas

    Raja Pranayama ou respiração completa

    A nossa respiração está intimamente relacionada com as respostas do nosso sistema nervoso, por isso iniciaremos a prática com uma técnica simples chamada raja pranayama ou respiração completa.

    • Sente-se em uma postura confortável, pode ser no chão com as pernas cruzadas (você pode se sentar em cima de uma almofada se for mais confortável) ou em uma cadeira com as costas apoiadas.
    • Traga a sua atenção para a respiração, inspire profundamente preenchendo seu abdômen, a região da sua costela e seu tórax. Você irá perceber que seu abdômen se expande pra frente, a região das suas costelas se abrem para as laterais e seu tórax se eleva.
    • Expire lentamente trazendo de volta o tórax, as costelas e o abdômen.
    • Faça alguns ciclos dessa respiração por aproximadamente 2 minutos.


    Marjariasana e Bitilasana ou postura do gato e da vaca

    • Comece na postura de 4 apoios com as mãos na mesma largura que os ombros e os joelhos na mesma largura que os quadris.
    • Inspire e abra o peito, olhe pra cima e incline o seu quadril para cima, arqueando a coluna.
    • Expire e traga o queixo em direção ao peito, encaixe o quadril e arredonde a coluna.
    • Faça esses movimentos suaves e no ritmo da sua respiração (sempre que inspirar abra o peito e olhe pra cima e quando expirar arredonde a coluna)
    • Faça 6 respirações completas coordenando com esses 2 movimentos.


    Parsva Balasana ou postura da linha na agulha

    Mulher em postura de yoga em 4 apoios com torção da coluna
    • Comece na postura de 4 apoios
    • Expire e leve o braço direito em direção ao lado esquerdo com a palma da mão virada para cima. Leve o ombro direito e a cabeça em direção ao chão fazendo uma torção com a coluna
    • A mão esquerda pode continuar apoiada no chão ou você pode esticar o braço por cima da cabeça
    • Para retornar, volte a apoiar a mão esquerda no chão (caso tenha esticado) e com esse apoio eleve o tronco e volte para a postura neutra de 4 apoios.
    • Repita para o outro lado
    • Faça 4 respirações completas para cada lado.


    Balasana ou postura da criança

    Mulher em postura de yoga sentada sobre os calcanhares e com a testa apoiada no chão
    • Sente-se sobre seus calcanhares
    • Afaste um pouco os joelhos e leve a testa em direção ao chão.
    • Os braços podem ficar esticados para frente ou relaxados ao lado do corpo (você também pode colocar uma mão em cima da outra para apoiar a testa)
    • Faça 8 respirações completas.


    Janu Shirshasana ou postura da cabeça nos joelhos

    Mulher em postura de yoga, sentada com uma perna esticada e a outra dobrada com sola do pé apoiado no interior da coxa oposta
    • Comece sentado com as pernas esticadas
    • Dobre a perna direita trazendo a sola do pé no interior da coxa esquerda
    • Inspire e alongue a coluna
    • Expire levando o peito em direção a perna, mantendo a coluna ereta (vá no seu limite e até onde for confortável)
    • As mãos podem apoiar no chão, na perna ou no pé.
    • Para retirar, inspire e eleve a coluna lentamente
    • Repita para o outro lado
    • Faça 4 respirações completas para cada lado.


    Postura da lagarta (variação do Paschimottanasana)

    Mulher em postura de yoga sentada com as pernas esticadas e as mãos apoiadas nos pés
    • Comece sentado com as pernas esticadas
    • Leve o tronco para frente arredondando a coluna
    • As mãos ficam ao lado das pernas
    • Solte bem o pescoço e relaxe nessa postura
    • Faça 8 respirações completas


    Apanasana ou postura do joelho no peito

    Mulher deitada no tapete de yoga abraçando os dois joelhos
    • Deite-se com as costas apoiadas no chão
    • Dobre as pernas e abrace os joelhos levando-os em direção ao peito
    • Faça 8 respirações completas


    Jathara Parivartanasana ou postura de torção abdominal

    Mulher numa postura de yoga deitada com barriga para cima, com joelhos dobrados caídos para um lado e olhando para o lado oposto
    • Deite-se com as costas apoiadas no chão
    • Abra os braços em cruz (mãos na mesma linha que o ombro e palmas viradas para baixo)
    • Eleve os joelhos dobrados
    • Expire e deixe os joelhos caírem para um dos lados
    • Olhe para a mão no lado oposto.
    • Volte ao centro e repita para o outro lado
    • Faça 4 respirações completas para cada lado.

    *As torções são feitas durante a expiração.

    Supta Baddha Konasana ou postura da deusa reclinada

    Mulher numa postura de yoga deitada com a barriga para cima com as solas dos pés unidas e os joelhos abertos para as laterais.
    • Deite-se completamente no chão
    • Dobre os joelhos unindo as solas dos pés
    • Deixe os joelhos caírem para as laterais.
    • Leve os braços acima da cabeça, abraçando os cotovelos (você também pode deixar as mãos em cima do abdômen)
    • Mantenha essa postura por 8 respirações completas.


    Espero que você tenha gostado e que se sinta motivado(a) a experimentar essa prática sempre que precisar.

  • Yoga os 5 elementos da natureza

    Yoga os 5 elementos da natureza

    O corpo humano é uma expressão da natureza em sua forma mais refinada. De acordo com a filosofia do yoga, cada aspecto do nosso ser – físico, mental e emocional – está interligado e conectado com tudo o que existe no universo. Embora, muitas vezes, nos esqueçamos dessa conexão, a forma como nosso corpo funciona e se movimenta, assim como os alimentos que ingerimos e a maneira como nos sentimos, são prova dessa conexão e pertencimento.

    Os 5 elementos

    De acordo com a medicina ayurvédica, tudo o que existe no universo é composto por cinco elementos: água, ar, fogo, terra e éter. Cada um desses elementos está relacionado com um aspecto específico do nosso ser físico e emocional.

    Os chakras, centros de energia que percorrem a coluna vertebral, estão associados a cada um desses elementos da natureza. Cada chakra representa uma área do nosso corpo e tem a capacidade de influenciar nossos pensamentos, emoções e saúde física. Além disso, acredita-se que cada dedo da mão também está relacionado com um elemento, então quando fazemos uma mudrá, combinamos esses elementos entre si, e consequentemente alteramos nossa vibração energética, ativamos os elementos em nosso organismo e ativamos os chakras.

    Terra

    O elemento terra representa tudo aquilo que é mais denso, portanto, aquilo que sustenta. Quando esse elemento está equilibrado, nos permite estabelecer objetivos e ter disciplina para alcançá-los. Nos sentimos seguros e aterrados. Quando desequilibrado, pode levar a problemas como ansiedade, medo e desânimo. Está associado ao dedo anelar e ao chakra raiz (Muladhara chakra), localizado na base da coluna vertebral, este chakra está relacionado com o nosso senso de segurança e estabilidade.

    Água

    O elemento água representa a fluidez. Por isso, quando esse elemento está equilibrado conseguimos nos adaptar e fluir melhor durante os desafios que nos são apresentados. Além disso, nos permite criar conexões emocionais mais saudáveis. Quando desequilibrado, pode levar a problemas como excesso de emoção, ciúme e possessividade. Está associado ao dedo mínimo e ao chakra sacral (Svadhisthana chakra), localizado na região do baixo ventre, este chakra está relacionado com nossa sexualidade, emoções e prazer.

    Fogo

    O elemento fogo representa aquilo que purifica e transforma. É o elemento da ação, do movimento. Por isso, quando temos esse elemento equilibrado, geramos mais energia e força para colocar em prática aquilo que desejamos. Está associado ao dedo polegar e ao chakra do plexo solar (Manipura chakra) localizado no plexo solar, este chakra está relacionado com a nossa autoestima, poder pessoal e autoconfiança.

    Ar

    O elemento ar é leve e volátil, Quando esse elemento está equilibrado, podemos amar o próximo e a nós mesmos de forma incondicional. Não sentimos apegos desnecessários e entendemos a nossa essência, agindo de forma autêntica, compassiva e empática. Está associado ao dedo indicador e ao chakra do coração (Anahata chakra) localizado no centro do peito, este chakra está relacionado com o amor, a compaixão e o perdão.

    Éter

    O elemento éter é considerado o espaço onde todos os elementos podem se relacionar e interagir. Quando o elemento éter está equilibrado, a comunicação flui de forma clara e eficiente, permitindo uma conexão mais profunda com os outros e uma expressão mais autêntica de nós mesmos. Está associado ao dedo médio e ao chakra da garganta (Vishuddha chakra) localizado na garganta, este chakra está relacionado com a nossa capacidade de comunicação e expressão pessoal.

    Ajña chakra e o Sahasrara chakra

    Como o Ajña chakra e o Sahasrara chakra estão conectados com energias mais sutis, não se relacionam diretamente com os 5 elementos. O Ajña chakra está relacionado com a luz e o Sahasrara chakra com a consciência pura.

    A prática de yoga e os 5 elementos

    Ao praticar yoga, podemos utilizar diversas técnicas, como as hasta mudrás, pranayamas, ásanas, yoganidra e meditação promovendo o equilíbrio e a harmonia em nosso corpo e mente. Conhecer esses elementos e a forma como eles se manifestam pode ajudar a desenvolver uma prática de yoga mais consciente e completa de yoga.

  • O que são os Bandhas e quais seus benefícios

    O que são os Bandhas e quais seus benefícios

    O que são os bandhas?

    Os bandhas são fechos ou contrações energéticas que isolam, canalizam e direcionam o Prána, evitando a dissipação de energia. Dessa forma, ajudam a manter o fluxo energético equilibrado no corpo. Podemos aplicá-los de forma isolada ou em conjunto, especialmente durante pranayamas, ásanas e técnicas de purificação.

    Os 4 principais bandhas

    Jalandhara Bandha

    Jalandhara Bandha é a contração da garganta, que acontece quando levamos o queixo em direção ao peito. Esse bandha está diretamente relacionado ao Vishuddha Chakra, ajudando a equilibrar esse centro energético. Além disso, sua prática influencia as glândulas pituitária, pineal, tireoide e timo, regulando a produção hormonal.

    Uddiyana Bandha

    Uddiyana Bandha é a contração do abdômen, realizada por meio da sucção abdominal, elevando o diafragma e os órgãos internos durante Bahya Kumbhaka, que é a retenção da respiração sem ar nos pulmões. Por isso, é recomendado praticá-lo em jejum ou com o estômago vazio.
    Além de massagear os órgãos internos, essa técnica melhora a digestão, estimula o fígado e o pâncreas e fortalece a parede abdominal. No entanto, não é recomendado para gestantes.

    Mula Bandha

    Mula Bandha consiste na contração dos esfíncteres do ânus e da uretra. Essa prática favorece a ascensão da energia Apana, fortalece o assoalho pélvico e equilibra o Muladhara Chakra.

    Jihva Bandha

    Jihva Bandha é a contração da língua no palato mole. Essa técnica impede que o prana resfrie no caminho ascendente, já que a base da coluna é quente e o topo da cabeça mais frio, e o prana precisa superar esse resfriamento para alcançar o Sahasrara Chakra.
    Ao praticar Jihva Bandha, você concentra essa energia vital na região do palato. Quando libera a contração, essa energia se potencializa e sobe com mais intensidade até o chakra coronário.

    Conjunto de bandhas

    Bandha Traya

    Bandha Traya é a contração tríplice, que envolve simultaneamente a garganta, o abdômen e os esfíncteres. Como inclui o Uddiyana Bandha, essa técnica deve ser realizada em Bahya Kumbhaka.

    Maha Bandha

    Já o Maha Bandha, conhecido como o grande fecho, combina os quatro bandhas ao mesmo tempo. Assim como o Bandha Traya, também praticamos em Bahya Kumbhaka devido à inclusão do Uddiyana Bandha.

    Benefícios

    • Canaliza o prana
    • Direciona o fluxo de energia vital
    • Auxilia no despertar da Kundalini
    • Melhora a função endócrina
    • Melhora o funcionamento dos órgãos abdominais
    • Purifica os órgãos internos, glândulas e sistema nervoso
    • Aumenta consciência corporal
    • Estimula o fluxo de prana pela Sushumna Nadí, o canal central energético localizado ao longo da coluna até o topo da cabeça
    • Proteger o corpo durante as práticas físicas
    • Vitaliza os órgãos, glândulas e sistema nervoso


    Conforme evoluímos em nossa jornada no yoga, aprendemos a incorporar essas técnicas de forma mais intuitiva. Cada bandha oferece um benefício específico e pode potencializar sua prática de diversas maneiras.

    Portanto, espero que este post te inspire a explorar essa ferramenta poderosa do yoga e a integrá-la no seu dia a dia! ✨

  • Nadís: nossos canais de energia vital

    Nadís: nossos canais de energia vital

    O que são as Nadís?

    Da mesma forma que temos canais que permitem a circulação de nutrientes e oxigênio, também temos um sistema de canais energéticos, as nadis, que circulam a energia mais sutil e vital, chamada de prana, através do nosso corpo. Algumas escrituras falam de 72.000 nadís que formam esse sistema energético que permite a circulação de prana. Podemos considerar 3 principais nadís.

    As 3 principais nadís

    Sushumna

    É o canal central situado na nossa coluna vertebral, justo onde estão localizados nossos chakras, por isso pode ser considerado o canal energético mais importante. Vai desde a base da coluna até o topo da nossa cabeça, e é o caminho por onde acontece a ascensão da Kundalini.

    Idá e Pingalá

    São nadís espelhadas com energia descendente e com movimento helicoidal. Acredita-se que cada cruzamento entre essas duas nadís é a região de um chakra. Esses canais começam um em cada narina e percorrem a sobrancelha, no nosso Ajña chakra, para depois descer pela coluna. Quando inalamos, o ar entra pelas nossas narinas, o prana se separa do oxigênio e penetra nas nadís, especialmente em Idá e Pingalá.

    Idá

    Associada a energia lunar que tem polaridade negativa, é mais fria, mais introspectiva e tem aspecto mais feminino. Começa na narina esquerda e está relacionado com o sistema nervoso parassimpático.

    Pingalá

    Associada a energia solar, por isso tem polaridade positiva, é mais quente, mais extrovertida e tem aspecto mais masculino. Começa na narina direita e está relacionado com o sistema nervoso simpático.

    Como equilibrar nossas polaridades

    É natural nosso corpo alternar a predominância entre essas duas polaridades. Tem dias que estamos mais introvertidos e em outros estamos mais extrovertidos, e às vezes essa variação ocorre num mesmo dia, portanto algo que você pode fazer ao acordar é, gentilmente, fechar a narina direita e inspirar e expirar algumas vezes pela narina esquerda e fazer o mesmo para o outro lado, para identificar qual narina está mais bloqueada.

    Caso você perceba que o lado esquerdo está mais bloqueado você pode fazer chandra pranayama que é a respiração lunar. Ótimo para desbloquear Idá e consiste em inspirar e expirar somente pela narina esquerda. Você pode bloquear a narina direita com a mão direita em Jñana Mudrá (unindo polegar e indicador e bloquear a narina direita com o dedo médio)

    Caso você perceba que o lado direito está mais bloqueado você pode fazer surya pranayama que é a respiração solar. Ótimo para desbloquear Pingalá e consiste em inspirar e expirar somente pela narina direita. Você pode bloquear a narina esquerda com a mão direita em Jñana Mudrá (unindo polegar e indicador e bloquear a narina esquerda com o dedo médio)

    Citei os 3 principais canais energéticos, mas temos milhares de nadís que levam a energia vital para todo o nosso corpo.

    Como manter as nadís livres para a circulação do prana

    Nossos hábitos, pensamentos, sentimentos e emoções podem afetar e até bloquear as nadís, o que pode prejudicar a circulação de prana. Quando temos energia estagnada ou não recebemos energia suficiente em alguma parte do corpo, podemos gerar desequilíbrios e até mesmo sintomas físicos que podem ser incômodos. Por isso é importante manter esses canais livres para o prana circular e chegar a todas as partes.

    Os pranayamas são técnicas que auxiliam na purificação e desbloqueio das nadís, no equilíbrio das nossas duas polaridades, na expansão do prana, no funcionamento equilibrado dos chakras, e por isso promovem mais vitalidade e bem estar.
    Os mantras, através da frequência dos sons, promovem a vibração das nossas nadís auxiliando também na sua purificação.
    Além disso os ásanas (posturas), bandhas (contrações de determinadas áreas do corpo que auxiliam no movimento do prana), kriyas (técnicas de purificação do yoga), meditação, alimentação, bons pensamentos e bons hábitos também promovem o livre fluxo de energia vital através das nadis.

    Prática para ativar e equilibrar os canais de energia

  • Yoga é para todos sim!

    Yoga é para todos sim!

    Quando converso com as pessoas sobre yoga sempre escuto frases do tipo: “ não sou flexível o suficiente”, “ não tenho corpo pra isso” ou “nunca vou conseguir fazer algumas das posturas”, etc. Por conta da quantidade de conteúdos que recebemos o tempo inteiro associando o yoga com posturas ultra difíceis e pessoas super magras e flexíveis, nossa ideia sobre yoga se limita de tal forma que desencoraja qualquer um fora desse padrão estético a começar a praticar.
    Eu entendo que muita gente acaba chegando até o yoga através da parte física e talvez por isso tantos conteúdos enfatizando apenas esse lado. Mas também acho que como profissionais da área, devemos ter a responsabilidade de esclarecer que o yoga é uma filosofia de vida que vai muito além da parte física, e que sim é uma prática para todos.

    Quero deixar claro que não tem nenhum problema a pessoa ser magra, ir pra academia, ser flexível ou conquistar posturas avançadas, o problema é achar que yoga é só isso e “vender” essa ideia.

    Se estudamos os Yoga Sutras de Patañjali aprendemos que ele descreve o caminho do yoga através dos 8 angas:

    • Yamas – condutas éticas sobre como devemos agir com o meio externo
    • Niyamas – condutas éticas sobre como devemos agir com nós mesmos
    • Ásanas – posturas físicas que devem ser firmes e confortáveis
    • Pranayamas – técnicas respiratórias que tem como objetivo expandir o prána, energia vital
    • Pratyahara – aumento do domínio sobre as influências externas
    • Dharana – concentração plena, utilizando um objeto de concentração. É o estágio prévio a meditação
    • Dhyana – é o estado de meditação, quando nos conectamos e nos tornamos um com o objeto de concentração
    • Samadhi – é o estado de hiperconsciência e iluminação. Estado de união com o universo divino.


    As posturas físicas são apenas uma parte do caminho, e não existe nenhuma passagem que diz que essas posturas devem ser avançadas ou difíceis. Devem ser apenas firmes e confortáveis e isso podemos alcançar em qualquer postura dentro dos nossos limites. O Yoga te faz olhar pra dentro de si, te faz conhecer sua verdadeira essência e sua conexão com o divino. A prática apenas de ásanas com o único objetivo de melhorar a forma física , a flexibilidade ou alcançar ásanas avançados, alimenta apenas o ego e isso não é yoga.

    Yoga é como você interage com os outros seres, é ter uma conduta não violenta, ser verdadeiro, não se aproveitar dos outros, é ter disciplina com você mesmo, é ter força de vontade mas não se apegar às expectativas, é aprender a se movimentar para conhecer seu corpo e usar esses ensinamentos fora do tapetinho, é aprender a respirar para expandir a energia vital e ter mais saúde e vitalidade, é treinar a mente para conseguir acalmar as flutuações de pensamentos, é encontrar nesse silêncio quem você verdadeiramente é, e encontrar paz e felicidade no final do caminho.

    Cada indivíduo é único e a forma de encontrar seu propósito vai ser diferente. Não existe uma forma que seja a correta, existem diversos caminhos. Por isso NUNCA se compare a ninguém, olhe pra você, entenda seus limites e conheça o poder que você tem.

  • Abhyasa e Vairagya: disciplina e desapego

    Abhyasa e Vairagya: disciplina e desapego

    Já faz um tempo que eu queria escrever esse texto, e acho que é mais uma mensagem pra mim mesma que qualquer outra coisa. Não sei se isso é algo que também acontece com você, acredito que seja natural do ser humano, mas tem momentos que estou super disciplinada e focada na minha prática e em outros é mais difícil manter esse foco e a disciplina. Então de tempos em tempos eu preciso me reconectar com meu propósito e reacender meu ânimo para manter a prática constante. E é um pouco sobre isso que vou falar hoje.

    Nos Yoga Sutras, Patañjali encontramos dois conceitos essenciais: Abhyasa e Vairagya.

    Abhyasa

    Abhyasa significa hábito, repetição, disciplina. Entendemos esse conceito como o esforço necessário para manter a mente em estado de harmonia com o seu ser. Isso só é possível através da prática constante (cuidado para não entender a prática como sendo apenas de ásanas). Patañjali diz que é essencial que essa prática seja feita por um longo período de tempo, sem interrupções e que o praticante deve se manter comprometido.

    Vairagya

    Vairagya significa desprendimento, desapego. É o estado mental no qual o praticante não tem apegos ou aversões com coisas materiais, nem em relação ao passado ou ao futuro, ou com sentimentos provenientes do ego como orgulho, superioridade ou inferioridade, medo, e raiva. Muita gente se confunde com se desfazer de tudo que é material e viver com praticamente nada, mas esse conceito tem a ver com a atitude de desapego em relação às coisas do mundo, que também inclui nossos pensamentos e ego. Vairagya tem 4 etapas:

    • Yatamana – Esforço para se desapegar dos desejos sexuais
    • Vyatireka – Etapa de conscientização do nível de apego que você tem por certos objetos
    • Ekendriya – Nessa fase, a mente ainda domina os sentidos, mantendo apego ou aversão a um objeto.
    • Vasirara – Etapa onde é possível alcançar um estado de auto realização. Etapa em que não há mais apegos e nem aversões em relação às coisas do mundo


    Conclusão

    Um não existe sem o outro, precisamos desapegar para conseguir acalmar a mente e assim seguir praticando o Yoga com entrega e constância. Esses princípios vão sustentar os esforços necessários para alcançar o objetivo final do Yoga. Enquanto Abhyasa fornece a atitude necessária para se desenvolver e melhorar a pratica, Vairagya ajuda a manter o praticante focado no seu caminho e não em seus desejos e ego.

    O Yoga é uma filosofia de vida, portanto esses dois pilares são super importantes para qualquer atividade do seu dia a dia, e não só no tapetinho. Quando conseguimos alcançar Abhyasa e Vairagya aprendemos a separar o que é essencial do que não é.